terça-feira, 20 de outubro de 2009

Para especialista, falta 'espírito empreendedor'

Gustavo Nolasco

Mariana Antonella

Vender frutas, carnes, produtos de limpeza e tudo que um supermercado pode oferecer por meio da internet. A ideia surgiu há quatro meses e é do universitário Bruno Ricieri, de 19 anos. Ele participa do curso de empreendedorismo, que faz parte do 1º Fórum de Integração do Conhecimento, promovido durante essa semana pelo Isca Faculdades.

Projetos como o de Bruno podem ser selecionados por uma incubadora de empresas, que vai indicar os caminhos para a ideia dele se transformar em uma empresa lucrativa. Mas o jovem sabe que esses caminhos não são nada fáceis. “Existem muitos obstáculos. Que investidor vai acreditar em um rapaz da minha idade?”, lamenta.


O engenheiro eletrônico e gerente da Incamp – incubadora da Unicamp -, Davi Sales, é o palestrante desse primeiro dia do evento e talvez possa ajudar Bruno. “Nós queremos indisciplina, confusão, contradição. Essas são as características base de um empreendedor”, diz o gerente, que para estimular os participantes exibiu várias peças publicitárias.

“Olha isso, a pessoa precisa se adaptar ao mercado”. Na tela, um esboço de uma propaganda que seria veiculada em países onde se lê da direita para esquerda. O rapaz que, no final da tirinha, fica feliz porque tomou determinado refrigerante, teria o efeito contrário no entendimento daquele povo, caso o comercial não tivesse sido adaptado.

Outra característica indispensável para o sucesso nos negócios, segundo o engenheiro, é saber se comunicar bem. Taís Silveira Custódio cursa Comunicação Social e decidiu participar da palestra, que tem como maioria dos inscritos alunos de Administração e Contabilidade. “Quero entender mais de uma área que não faz parte do meu curso, mas é de meu interesse”, explica.

Sales acredita que a melhor maneira para uma empresa se consolidar é por meio de uma incubadora. “As chances de sobreviver são maiores”, salienta. Outro motivo é o capital disponível. A Incamp, por exemplo, dispõe de quase 1 bilhão e meio de reais para custear os serviços de incubação de empresas.

Mesmo com dinheiro para investir, e mais de 2 mil professores disponíveis para assessorar projetos nos mais diversos segmentos, ainda faltam boas ideias. “É um problema que começa no ensino fundamental. Desde pequeno o indivíduo é ensinado a ser um bom empregado, e não a pensar”, diz.

Ser empreendedor, na era digital, envolve mais que criatividade. “É trabalho 20 horas por dia, todos os dias da semana”, lembra o engenheiro. Também é preciso enxergar oportunidades onde as pessoas não conseguem ver. “O que um advogado faz com um computador, além de digitar processos? Ele resolve o problema da pirataria”, sugere.



No final, Sales perguntou à plateia: “Quem aqui tem algum projeto, quer realizar algo?”. Ninguém se manifestou. Mas Bruno, o universitário que quer montar um supermercado online, esperou o término da palestra e se aproximou do engenheiro. De longe era possível ouvir: “Essa é uma ótima ideia”. O jovem tem o que Sales precisa, espírito empreendedor. Mas o sonho vai ter que esperar, por um motivo que tira de cena a maioria dos possíveis empresários. “Ninguém quer correr riscos”, diz o engenheiro.

Bruno vai continuar o trabalho do pai, em um escritório de contabilidade. A segurança, que o “negócio da família” traz, fala mais alto que a empolgação de uma boa ideia. “Eu desisti de correr atrás desse projeto. Quem sabe, daqui a algum tempo, eu pense sobre ele novamente”.

Assista abaixo algumas dicas do engenheiro eletrônico, Davi Sales, para quem quer ser empreendedor:

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